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Mostrando postagens de 2010

Desencontro

Estava novamente diante daquele elevador. Junto comigo, entrou um engravatado, rosto fechado, expressão dura. Não sei se fui eu que apertei o sexto andar por impulso, ou se o mesmo já se encontrava apertando quando entrei... ou se nem isso. O elevador era de vidro, exibindo toda sua transparência aos que se encontravam dentro e aos que esperavam do lado de fora. Deslizava pelo quarto andar. Nunca havia visto aquele andar antes, parecia-me desconfigurado. O aspecto de um galpão extenso e meio sujo me ajudou a ter essa impressão. Abandono. Nem meros vestígios de algum tipo de esmero ou zelo. As máquinas estavam jogadas sobre as mesas de escritório mal dispostas no ambiente. Foi ali, detrás de uma dessas máquinas que o vi. Discreto em sua figura que na realidade foi sempre tão oposta a isso. Tive um rápido impulso de me projetar a frente da porta do elevador, como quem tem convicção de onde vai. Tive por um instante a impressão de estar alucinada, e tive também raiva dos engravatados que

Instantes

Meus pensamentos percorrem sua barba rala e suas pupilas dilatadas. Eu sei bem que isso pode carregar certa ambiguidade até determinado ponto, e não que não tenha sido a intenção. Não me preocupo. Meus pensamentos, por vezes, transitam entre tudo aquilo que deveria ser e o que não poderia. Meus pensamentos são fragmentos consistidos em instantes no qual se moldam minhas vontades.

Promessas

Mas difíceis são elas quando feitas a você – a você mesmo. Porque quando feitas a outrem, por incrível que possa parecer, cobra-se menos. Manter comprida, é o mesmo ápice que sustentá-la somente em prática, mesmo que com consciência vã. Promessas para si, não  escapam sequer os pensamentos. Quando prometido a outro ser qualquer, cumpri-las basta. Quando prometido a si, o mero desvio de pensamento já é um tremendo lapso.

Um desenho de Cores

Queria fazer um desenho. Um desenho de muita cor. Não que esse tivesse cor nele de fato. Mas que quem o visse, visse nele muita cor. Um laranja otimismo, cores quentes em idéias pra dar mais calor. Mas queria ver mesmo as frias, bem vibrantes no meu ver. O azul escurecido, mas não exatamente aquele blasé. Cores assim, bem acrobáticas, como uma verde água azulado, mas também não muito claro, aquele tom bem instigante, mas que ninguém nunca soube descrever. O branco pode até comparecer; são as lacunas da mente que ainda temos para preencher. Mas que as frigidas façam o favor de desaparecer. Quero um desenho nos meus textos e no meu dizer. A cor morna de um abraço bordô. Uma boca rosada, a pipoca vermelha, e a língua-sangue de muito sabor. Minha vida como meus artistas, que a cor consiste na mente e não no fato de ver. Eu faço um desenho que está em mim e as cores que vejo, não insista, elas não estão no papel.

É o que acho

Eu não queria achar mais nada. Aliás eu queria é parar de achar. Cansei de sempre ter que achar de menos ou demais. Eu não quero achar nada disso. Porque tem que ser um lixo ou sensacional? Porque não Pode ser só alguma qualquer coisa e estar tudo legal? É sempre tudo mal gosto, exagero, excesso, regresso, crítico, escroto, banal. Acho ótimo. Acho tolo. Me diz em careta. Indisposto. Achando sempre algo de algo pra dizer que podia ser outra coisa melhor. E se digo então que está tudo mesmo fora do lugar, a água cria gosto, o corpo pose e aí é tudo tranquilo e nada vai mal. Também sou dessa última opinião, apenas também acho que tem coisa ai que se intercepta mal. Não pode ser somente quando não o seria.

As pontas do laço

A divergência entre as pontas desse laço são grandes, mas sou eu esse laço todo. Sou das duas opiniões. Gosto do cinema hollywoodiano quanto do Italiano. Gosto de rock inglês e americano sim, ouço clichês, mas ouço João Gilberto pra me acalmar. Canto “yeah yeah” no banho, mas sambo quando canto. Deliro no sussurro falado em inglês, mas ouço Chico pra me apaixonar.  Gosto de uma festa agitada, pra me acabar e não lembrar bem o porque estive feliz, mas também gosto de acordar e não ter nada pra fazer e ficar ali a mercê. As pontas do laço não se encostam, mas sou eu ele todo, todo esse laço.

Prefiro não entender

Eu já não entendo mais nada.  A propósito acho que há muito tempo já me perdi.  Eu não sei até que ponto eu simplesmente não entendo e até que ponto eu faço questão de não entender. Há momentos em que as próprias pernas nos dão rasteiras, pernas que já mal se sustentavam em pé. É mesmo tudo um grande problema ou um grande dilema, mas seja qual for eu prefiro mesmo não entender.  

A porta do Vento

São sentimento diversos que se abrem dentro de mim. São crateras inteiras. Pomares, riachos e até jardins. São florestas complexas repletas de joanas, serpentes e cupins. Me tocou em assuntos e questões que não queria falar. Não queria lembrar. São tantos os brincos que se perdem e não conseguem-se achar. Nada que agrida essa face o interno conseguirá mudar. Mas fere, fere por dentro apesar de ser o externo que as marcas terá de carregar.             Tive medo da perda e saudades de uma vida que não abandonei; pelo menos não por completo. Interrompeu o ar. Olhei bem os detalhes. Elementos oníricos, os mesmos elementos que me dizem sempre tantas coisas. Estranho apego, mais um que não soube decifrar. Estava sem ar. Compenetrei meus sentimentos e meu modo de olhar. Entrou em mim, tocou meu mundo... E tive vontade de respirar. Um me desperta adrenalina, instiga energia, como quando corro num parque sem ter motivos ou afins. Outro me retorce a espinha, me crava no peito um pun

Libertação

Agir sem externo constrangimento Revelar o mais intimo sentimento Ser, livre de censuras Sendo a vida um rascunho O homem é fruto de rasuras E o corpo é uma linda textura Tecido de vida, carne sensorial Involuntária é a liberdade natural Use toda sua perspicácia Rompa o cordão umbilical Não seja mais uma mera falácia Descubra seus pontos essenciais Indivíduos idênticos são cópias irracionais Seja simplesmente você Vibre a liberdade individual Quero ter minha crença, ou não Quero ser ou não ser Sentir a beleza filosofia A arte e a melodia Política são referências Moral esmagando advertências Liberdade de consciência Venho exprimir meu pensamento Pensamento em manifestação Penso, logo debato. Quero tudo de imediato Liberdade de opinião Um espaço franqueado a todos Deliberar sobre assuntos Encontros sem tormentos Ausência de prévia autorização Liberdade de reunião Intrépida , vista-se de Audácia Cometa ações ext

Dois em um tempo

Hoje pude perceber que estamos mesmo há algum tempo juntos. Estive reparando em manias, trejeitos, coisas, que só se fazem assim... quando se está a dois. Porque é o tipo de coisa que se constrói junto, e com a repetição, e essa repetição vêm com o tempo. Tempo é mesmo algo bem curioso. Mas é mais curioso ainda achar que você sentiu algo que não se sente; no caso, o tempo. Senti no nosso riso. Senti nas minhas manias, nas manias dele. Senti na minha mão por debaixo da coxa dele e a dele na direção. A minha teimosia sem sentido, o riso dele das nossas bobeiras, o beijinho espontâneo. Estava nos gestos de ambos, nas pequenas atitudes, nos carinhos, na satisfação. Estava com nós e em nós. O tempo estava ali escancarado. Pude sentir hoje que estávamos há um tempo assim: a dois. 

Até que ponto?

V ia-o como alguém especial, especial mesmo e não sei de verdade até que ponto me confundi. Com ele, sentia-me especial especial de verdade e não sei mesmo até que ponto me confundi. Ele me escolheu porque era de fato especial? ou eu me sentia especial, porque ele o era e me escolheu? eu não sei bem até que ponto não me confundi.

Lobo Ruivo

Estavam todos ali, na varanda. Era apenas um passo que os distanciavam da grama. Mas ninguém ousava dar um passo a frente. A visão era belíssima. Mesmo que a noite e seu breu não permitissem que o verde da grama esbanjasse toda sua beleza em potencial. Mas o clima era perfeito, e a noite convidativa. Mas se tudo era tão propício, porque ninguém ousava por um pé a frente do outro para sentir verdadeiramente, com todos os sentidos, aquilo que até então somente viam? Qual será o medo que persegue os seres humanos, que os fazem contentar-se apenas com a visão das coisas? Eu sempre, por um impulso naturalmente contido em mim, quis saborear as coisas em minhas próprias mãos. Nunca me contentei com as histórias contadas, queria vivê-las. Nunca me conformei com conselhos, queria senti-los válidos. Em outras palavras, não importa o que me dissessem, eu tinha que por meus pés na grama mesmo que ninguém mais quisesse sentir sua umidade por entre os dedos da base... Eu quis, e quis mais; quis rol

Cabe a mim

Vêm-me impulsos. Sinto isso nas minhas veias mais internas. Atravessam meus pulsos como se pudessem trasvasá-los. Vibrantes. Chegam às pontas de meus dedos, dormentes.  Quero dizer sobre coisas incompreensíveis e incompreendidas. Coisas íntimas. Coisas universais. Porém coisas as quais devido a sua tamanha complexidade talvez não sejam encarregadas a mim para dizê-las, seja pelo meu vocabulário curto para ampará-las em todas as suas amplitudes e peculiaridades extremas de expressão, que exijam a linguagem que me foge, seja por não conhecê-las mesmo. Neste ponto é que se instala o paradoxo a que me deparo todos os dias: o que está aqui só eu posso traduzir, mas se não souber fazê-lo, então ninguém jamais o saberá. 

Palavras quaisquer

Sou novata nessa arte. Nunca escrevi com intuito de compartilhar com alguém minhas palavras postas em pedaços de papeis, páginas de agendas, ou mesmo em textos. Portanto desde já fica dito: já está enraizado em mim dizer tudo muito subjetivamente, afinal escrevia para ninguém mais do que eu, portanto minha preocupação não era ser direta e tornar algo possível de ser compreendido. Pelo contrário, sou adepta das minhas frases sem nexo aparente, adoradora dos meus sonhos esquisitos e da minha linguagem solta, desprendida de qualquer regra. Apesar de tudo isso, por fim, achei plausível ter um espaço meu assim. Espaço no qual pudesse ser ouvida, por mais que não soubesse quem são estes ouvintes. Mas sei que existe alguém por ai em mesma sintonia, ou que pelo menos se aproxima das minhas ambiguidades, inconstância, e compartilha comigo os mesmos paradoxos. Precisava mesmo de um lugar para cuspir meus pensamentos traduzidos em palavras quaisquer.