Estava novamente diante daquele elevador. Junto comigo, entrou um engravatado, rosto fechado, expressão dura. Não sei se fui eu que apertei o sexto andar por impulso, ou se o mesmo já se encontrava apertando quando entrei... ou se nem isso. O elevador era de vidro, exibindo toda sua transparência aos que se encontravam dentro e aos que esperavam do lado de fora. Deslizava pelo quarto andar. Nunca havia visto aquele andar antes, parecia-me desconfigurado. O aspecto de um galpão extenso e meio sujo me ajudou a ter essa impressão. Abandono. Nem meros vestígios de algum tipo de esmero ou zelo. As máquinas estavam jogadas sobre as mesas de escritório mal dispostas no ambiente. Foi ali, detrás de uma dessas máquinas que o vi. Discreto em sua figura que na realidade foi sempre tão oposta a isso. Tive um rápido impulso de me projetar a frente da porta do elevador, como quem tem convicção de onde vai. Tive por um instante a impressão de estar alucinada, e tive também raiva dos engravatados que criticavam o andar, o prédio, o país. Disse que era somente um engravatado? Perdão, eram dois. É que estes já se fazem tão iguais... que se fossem três, seriam meras replicas um do outro e não faria diferença alguma. Saltei do cubículo de vidro e aproximei com calma, uma calma que na verdade não cabia no meu peito ansioso. Fui em sua direção como se fosse um ato cotidiano e comum. A cada passo que dava a frente naquele piso frio, o sentia mais real. E me sentia mais lúcida também. Ele mantivera os cabelos como da última vez que o vi. Seu rosto preserva-se bem para que não me restassem dúvidas. Podia imaginar seu cabelo estendendo-se até as costas. Imaginava porque ele o conservava amarrado como de costume. Seus olhos eram os mesmo ou mais expressivos que antes. Não expressei o entusiasmo em vê-lo que se resguardava em mim. Disfarcei a situação incomum aos engravatados que subiam levados no elevador de vidro, encenado uma familiaridade com tudo aquilo que já havia se perdido. Sentindo-me livre de olhares, abracei-o forte. Com meu olhar úmido confessei minha espera e a falta que senti nos anos que se escorrem entre nós dois.
Eu não sei o que ocorre. Nem o que percorre em minha mente. Mas minhas bochechas queimam. Só pensando na possibilidade. Eu não tenho certeza. Mas na dúvida... Minhas bochechas ardem. Um frio, concentradamente gelado eletriza-me subindo pelo meio-fio de meu estômago, agitando minhas células que se aquecem em questão de segundos. Tento respirar normalmente, mas percebo que prendo a respiração e sinto que minha face enrubesce. O sangue agora se concentra veemente em minha cabeça e não mais se espalha normalmente pelo meu corpo. Momentaneamente meus pés formigam... A sensação se espalha pelos meus dedos, imóveis sobre a mesa, que param imediatamente de exercer qualquer movimento voltado para outra atividade. Rimos alto. Essa foi minha única saída. Tento espiar com rabo de olho, mas meu desconcertante nervosismo me deixa quente. Queria entender o porquê desse efeito sobre mim. Sinto-me imediatamente tosca e preocupada. Deveria eu estar assim? Acho que não. Mas meu descont...
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