O ímpeto humano é crítico. Crítico a tudo, mas sobretudo ao porque sente - não ao porque pensa. Pensar surge como que num ato de orgulho - pensando ser instinto - sendo em verdade mero vício cerebral de decodificar tudo. Classificar, ordenar, organizar. Em uma tentativa vã de significar o insignificável, de explicar o que não cabe explicação, de afirmar sobre o desconhecido. Tolo. De tão esperto, sabota-se, fugindo da sua propriedade mais pura de assumir que nada sabe e pouco compreende. O compreensível - se puder ser justo - lhe escapa em seu primeiro ato de pensá-lo. Ao pensar, por si só, já deixa de ver o que é invisível aos olhos - sentido tão valorizado aos que pensam demais. De todos os sentidos falta um que é todos e nenhum. E o único que sente para além de Maya - porque vai para dentro e para todos, por todos e por si. Mas acima de tudo, porque é o que é.
De volta ao ponto. O ponto é que o ímpeto humano não é o que o humano é. Ímpeto é impulso, fuga. Fuga tem esforço, o que somos em contrapartida, apenas é. Ser é o verdadeiro fundamento de vida e por esse ponto se fosse dedicar um órgão a tal questão, de certo não seria o cérebro. Este apenas me faz refletir sobre essa coisa toda. Enquanto o outro, o cor*, já é sentido - do ainda não compreendido sent** - ir, flow.
Se coração tivesse que pensar, já nasceria morto.
* do latim cor, cordis, que significa coração.
** o radical da palavra sentido indo-europeu é sent que indica sentido de direção, "para", ir.
Eu não sei o que ocorre. Nem o que percorre em minha mente. Mas minhas bochechas queimam. Só pensando na possibilidade. Eu não tenho certeza. Mas na dúvida... Minhas bochechas ardem. Um frio, concentradamente gelado eletriza-me subindo pelo meio-fio de meu estômago, agitando minhas células que se aquecem em questão de segundos. Tento respirar normalmente, mas percebo que prendo a respiração e sinto que minha face enrubesce. O sangue agora se concentra veemente em minha cabeça e não mais se espalha normalmente pelo meu corpo. Momentaneamente meus pés formigam... A sensação se espalha pelos meus dedos, imóveis sobre a mesa, que param imediatamente de exercer qualquer movimento voltado para outra atividade. Rimos alto. Essa foi minha única saída. Tento espiar com rabo de olho, mas meu desconcertante nervosismo me deixa quente. Queria entender o porquê desse efeito sobre mim. Sinto-me imediatamente tosca e preocupada. Deveria eu estar assim? Acho que não. Mas meu descont...
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