O tiro veio de não sei onde. Mas me acertou. Não consegui identificar nem direito o que era e a dor que me causava. Mas queimava, e ao mesmo tempo sentia meu corpo se comprimindo, como que numa tentativa vã de expelir aquilo de mim. Às vezes a dor aumentava quando tentava ignorá-la. Só me restava esperar. Esperar. Esperar. Pelo quê? Talvez nem eu soubesse. Em certo ponto já nem sabia mais dizer se a bala se alojara em mim, ou se foi algo externo. As dores, as sensações se confundem tanto, que muitas vezes torna-se difícil distingui-las. Mas o ponto que insistia em girar incessantemente em torno dos meus olhos já verdes de tantos hematomas e pontos cegos era exatamente aquilo – ou talvez mais, afinal também já não sei mais enumerar as coisas, ou se é a coisa - o ponto é que era aquilo, aquilo que não tinha explicação. As respostas, ou melhor, a falta delas me secava a garganta. A água que já não era fácil de engolir tornava-se ainda mais ríspida passando por minhas entranhas. Meus láb...