Peixe raçudo. Do tipo que
pode viver por muito tempo fora da água. Mas chega uma hora que o ar começa a
faltar. As cores perdem a vivacidade quando não se respira bem. São Paulo,
minha querida São Paulo, começa a desbotar comigo.
Dia chuvoso, centro de São Paulo, eu
ando sem norte na esperança de encontrar ela mesma. Tudo parece me entristecer.
Não vejo sentido nas coisas, as pessoas não param de repetir o termo
"milionário" sendo que não tem um tostão de compaixão no peito. Farta
de pessoas hipócritas, que chego a me sentir tola em insistir que as coisas
podem ser melhores com a nossa doação: de tempo, esforço, amor. É ácido. No
lugar da água cristalina que reviveria esse peixe ressecado as toxinas vão
correndo toda sobriedade. Tontura, náuseas. O corpo rejeitando a existência
azeda. Desconfigurado ou apenas cansado de se debater em vão no chão frio e
vazio, este peixe só precisa voltar para suas águas.