Me sinto quase ridiculamente frágil se olho sem desvios para você, ao ponto de deixar meu cérebro entender que sim, é você mesmo que está bem ali na minha frente – uma mesa ou um câmbio automático de distância. Se olho ao ponto de focar suas pupilas, sempre tão impetuosas absorvendo toda a luz para você... isso me soa tão injusto.
A vida realmente escorre por dentre nossos dedos e nós estávamos a segurando tão firme em nossas mãos, não era? As chances são circunstâncias ainda mais efêmeras que a vida que estamos vivendo agora. Se 5 minutos poderiam ter sido vitais para aquele que morreu sufocado, 5 anos podem ter sido mortais para um amor dolorido por descompassos brutais.
A notícia boa é que tudo muda o tempo todo e tudo pode ser revisitado de uma nova forma. Me doí também dizer, por toda nostalgia inevitável que você me revira... é tão autêntico, sentimentos reais – eu que já neguei tanto ao longo da vida que eles me habitavam, mas sou incapaz de negar agora... estou inundada em sentimentos.
É um alivio tão grande resolver questões que pareciam tão insolúveis no passado e dobraram as dores por longos anos, mas essas incuráveis, ficaram lá, do jeito que foram... o passado é o que foi, inalterável. Dissolver tudo isso agora, é uma questão de potencializar nossos movimentos para frente, sem dúvidas, sem dívidas, sem mal resolvidos, sem aquela pedrinha no sapato que toda vez que damos um passo à frente doí, nos amarra, nos resguarda... mas que, hoje, pode nos libertar. Se sou assim hoje, é porque doeu como doeu, é porque tive jogada as tantas vezes na cara que assim sou, algo que já não tento mais negar, apenas sou. E sigo sendo...sim, ainda assim.
Você acha que me conhece e diz que sou complexa, mas se assim é, essa minha complexidade não parou no tempo. Pelo contrário, ela se desenvolveu, mas me tornou mais livre e talvez menos legível para outrem. Exige sim um pouco de esforço se enfiar em mim para que eu solte um ou outro verbo que denuncie minhas tendências confidenciais e meus porquês, se é que os tenho. Você antes tão confuso, agora tão convicto, reflito sobre o que te faria recuar hoje... Mas esse não é mais o ponto. Não devemos provar nada um para o outro, nem para ninguém. Nos conhecemos de outra estrada e se quer se seja honesta eu ainda não sei para onde vou. Nunca fui aquela pessoa ideal para se aterrissar e ficar, porque eu sempre continuo indo, fluindo, escorrendo. Foi bom cruzar com você no caminho dessa nova estrada, ao familiar doce som de um sino em nota Mi. Mas eu ainda sou aquele passarinho sonhador que acredita que pode voar. Sim, o mesmo que você conheceu.